Parentalidade – carreiras de homens e mulheres – pauta empresarial ou cultural?

“Art 5º CF/88: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”

Será mesmo?

A plataforma Think Work fez uma pesquisa com 200 pessoas sobre parentalidade[1] e seus efeitos em suas rotinas profissionais, dessas 200 pessoas, somente 24% são homens (Matthias Wegener )[2].

Portanto, o problema não é empresarial, é cultural.

Homens não se interessam pelo tema. A cultura social vê a criação de filhos como função inerente a mulher.

Nossos Tribunais superiores acham normal e imutável (!!) mulher ter dupla jornada cuidando da família, a ponto de não permitir seu desenvolvimento profissional como qualquer pessoa. “Ao rejeitar a inconstitucionalidade desse dispositivo, o TST concluiu que o ônus da dupla missão (familiar e profissional) e o peso maior da administração da casa e da educação dos filhos acaba recaindo sobre a mulher trabalhadora.”[3]

Revivem as regras de 1943!!! Os conceitos familiares de 1943!!!

Homens e Mulheres não são iguais para nossos julgadores. Ponto???

Cadê a vírgula?

Como falar em parentalidade como um conceito de funções familiares para qualquer pessoa, de qualquer gênero, com tamanho desinteresse pelo tema?

Pelo jeito, as empresas começam a pensar em tais situações e criam licenças voluntárias parentais, que funcionam como licenças remuneradas, sem nenhum incentivo fiscal para elas.
E têm a dura tarefa de convencer os homens de que a ideia é boa.

Na pesquisa efetuada pelo “Movimento Mulher 360º”[4], encontramos a afirmativa de que: “Interessante notar que, com relação à licença maternidade, os pais são proporcionalmente mais partidários da ideia de aumentar a duração para 180 dias só para mães, com adesão ao Programa Empresa Cidadã, do que da outra alternativa: ampliar a duração de 120 dias com adição de 55 dias a serem partilhados livremente entre os cônjuges. (…)”
Apesar dessa resistência masculina, as notícias de tais políticas de licenças parentais para homens e mulheres têm sido mais constantes:

Grandes empresas passam a oferecer licença-paternidade maior no Brasil[5]

Empresas passam a oferecer licença-paternidade de até seis meses[6]

No entanto, são pouquíssimas empresas em relação ao universo que temos, e, portanto, cada vez mais, o assunto tem que ser discutido.

Tais pautas são cada vez mais necessárias, uma vez que a pesquisa da Think Work mostra que a maioria das empresas não foi solidária com as pessoas com filhos, nem mesmo em caso de abortos e falecimento.

Mostra ainda uma quase inexistência de políticas sobre ausências no trabalho para demandas familiares urgentes – somente 14% das empresas em que trabalham os entrevistados têm política estruturada sobre o tema.

Somente a mudança cultural trata alguma igualdade entre gêneros.  A ausência de políticas empresariais estruturadas, de pautas sindicais e governamentais, somente agrava a situação dessa desigualdade, que parece só aumentar, até com respaldo de Tribunais, que deveriam preservar a igualdade prevista na CF/88[7].

A quem cabe tal defesa de pauta?

Mas a luta pela pauta está, especialmente, nas mãos das mulheres. Lutar por igualdade de direitos significa lutar por regras de proteção parental e não só maternal.

Com igualdade de gênero e na parentalidade, a posição da mulher ficará mais igual na sociedade e no trabalho.

Um longo caminho a percorrer, mas que deve ser iniciado muito rapidamente, senão, voltaremos às regras de 1916, e daqui a pouco vai ter gente achando que marido pode pedir demissão pela mulher, para preservá-la da “dupla jornada”.[8]

Às empresas que detém o poder de decisão, fica o incentivo de retenção de talento. A pesquisa da Think Work indica que 70% dos empregados sem filhos olham para a existência dessas políticas para se manter em um emprego ou buscar outro.

Quem sabe a nova revolução de gênero não começa nas empresas, que facilitarão a visão de igualdade familiar?

Fonte: Rh Pra Você

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