“No futuro, trabalho não terá mais limitações geográficas”, diz diretor-geral do Linkedin

Com quase 20 anos de existência, o Linkedin deixou de ser uma rede social desconhecida e se tornou uma das principais formas de conseguir emprego atualmente. E, não só, se consolidou como uma vitrine para profissionais trabalharem a marca empregadora e criarem networking.

No Brasil, quarta maior comunidade do Linkedin, são mais de 51 milhões de usuários. Ao todo, a rede social cuja dona é a Microsoft, está presente em mais de 200 países e conta com cerca de 774 milhões de usuários pelo mundo.

Mas o mundo do trabalho hoje é bem diferente daquele de 2003, quando o empreendedor Reid Hoffman idealizou a rede social de negócios em sua sala de estar. Home-office, trabalho híbrido, saúde mental, diversidade, todos esses temas começaram a ganhar relevância e redesenhar carreiras e empresas.

Em ocasião dos 55 anos da EXAME, Milton Beck, diretor-geral do Linkedin para a América Latina, fez um exercício de futurologia e discutiu o que esperar do mundo do trabalho nos próximos anos.

EXAME: Como será a relação entre profissionais e empresas no futuro? 

R: Essa relação paternalista, em que um funcionário entra em uma empresa e trabalha por muitos anos, tende a diminuir ou ser extinta. E as pessoas vão passar a trabalhar por projetos. Fora isso, com o avanço das tecnologias, haverá o fim das limitações geográficas. Por muito tempo, as empresas estavam limitadas em termos de contratação por dificuldades relacionadas ao idioma.

No futuro, haverá mecanismos de tradução simultânea que resolverão essas questões. Enquanto tecnologias para reuniões em vídeo vão evoluir, se tornando quase realidade virtual. Também não estaremos restritos só à Terra, teremos vagas para diversas áreas em estações espaciais, quem sabe na Lua ou Marte.

EXAME: Haverá emprego para todo mundo?

R: Empregos cujas funções são tarefas repetitivas vão existir somente se houver pressão de alguma entidade, como os sindicatos. Do contrário, a tendência é que essas atividades passem a ser feitas por humanoides. Vão existir profissões que claramente serão substituídas. É só olhar, por exemplo, para algumas áreas, como atendimento ao cliente, que já contam com uma grande presença de bots.

Contudo, eu creio que também haverá condições para as pessoas mais vulneráveis sobreviverem. Serão criados sistemas de proteção social para quem não conseguir fazer essa transição. Um ponto positivo disso tudo é que as pessoas, no geral, vão trabalhar menos horas. Há uma tendência que a jornada de 40 horas semanais, em que há pouco espaço para vida pessoal, deixe de existir.

EXAME: Quais profissões você acredita que não serão automatizadas? 

R: Na verdade, eu acho que a tendência é que, olhando para profissões em que existe a interação entre pessoas, o trabalho feito por humanos se torne um diferencial. Haverá uma espécie de selo “made by human”. Haverá robôs psicólogos, massagistas, chefs de cozinha, cuidadores de idosos que desempenharão as atividades de forma idêntica a alguém de carne e osso.

Mas terão certas pessoas que vão preferir realizar esses serviços com humanos e, talvez, até pagar a mais por isso. O cerne disso tudo é que essa discussão de homem versus máquina, que já existe há uns 30 anos, deixe de existir. Passaremos a olhar como a tecnologia pode ensinar o homem a ser melhor.

EXAME: Qual será o papel dos escritórios nesse cenário? 

R: As empresas vão encontrar lugares onde as pessoas vão para interagir que não precisam, necessariamente, ser espaços físicos. Esses grandes escritórios, com baias, esse hábito de ir todos os dias para a empresa, pegar trânsito vai se tornar cada vez mais raro.

É claro que existem curvas de adesão. Nos Estados Unidos, por exemplo, os escritórios híbridos são uma realidade em grandes centros, como Los Angeles e Nova Iorque, mas quando vamos para cidades pequenas e médias, as pessoas ainda trabalham presencialmente todo dia. Ou seja, como tudo, não será algo uniforme, que acontecerá da mesma forma em todos os lugares.

EXAME: Quais as habilidades serão mais importantes? 

R: Todas as competências que estão relacionadas às características dos seres humanos, como criatividade e gerenciamento de conflitos. Veremos também muitas discussões sobre a ética dos algoritmos. Ou seja, como definir como a inteligência artificial deve agir em determinadas situações.

Por exemplo, um carro autônomo, que perde o controle e não consegue parar no sinal vermelho, enquanto duas pessoas estão atravessando. Ele deve ser programado para desviar dessas duas pessoas e, talvez, atropelar outra que está na calçada? Vão surgir vários desses dilemas, mas acredito que a sociedade usará os algoritmos para maximizar o senso de justiça.

EXAME: O Linkedin começou como uma rede social corporativa, com todas essas mudanças, como será a plataforma daqui a 55 anos?

R: A visão do Linkedin é o que menos vai mudar, porque é algo de longo prazo. O nosso propósito enquanto empresa, em meio a isso, é ser uma plataforma para gerar oportunidades econômicas para todos os profissionais. Algumas maneiras de criar essas conexões sequer sabemos ainda, poderão ser treinamentos, criação de redes de conexões entre os profissionais, educação.

A educação mudará bastante, essa dicotomia entre academia e mercado de trabalho vai deixar de existir. Haverá formas mais interativas, mais rápidas e com focos específicos para se aprender.

Fonte: Exame

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