Cai participação de mulheres com filhos no mercado de trabalho, mostra pesquisa

Uma pesquisa sobre o mercado de trabalho mostra que um grupo está entre os mais afetados pela pandemia: são as mulheres com filhos.

O nascimento da Aurora e da Sol foi planejado e muito desejado. O que não estava nos planos da relações públicas Luísa Alves era perder o emprego assim que voltou da licença-maternidade da primeira filha.


“Fui no primeiro dia e nem sentei na mesa. Já fui chamada e demitida”, relembra.

O empreendedorismo foi a saída que Luísa encontrou diante de tantas portas fechadas no mercado de trabalho. Ela se tornou consultora de mulheres que enfrentam essa mesma situação.

“Muitas famílias são chefiadas por mulheres e têm no trabalho a sua garantia de economia da família. Então, por que nós somos desligadas por que ficamos invisibilizadas assim que nos tornamos mães? E há tanto tempo, e está tudo bem para as empresas, para a sociedade. Esse grande tombo na minha vida fez com que eu levantasse e quisesse levantar outras mulheres”, diz.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios do IBGE, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas analisaram o impacto do nascimento de um filho na participação de homens e mulheres no mercado de trabalho, que já é historicamente desigual. O estudo leva em conta só as pessoas casadas.

Quando ainda não têm filho, sete em cada 10 homens em idade ativa estão no mercado de trabalho contra menos da metade das mulheres nessa mesma situação, uma diferença de 21 pontos percentuais. Quando nasce um bebê, essa desigualdade mais que dobra: passa a ser de quase 50 pontos percentuais.

Ao longo da vida da criança, a participação feminina segue abaixo da dos homens e leva 18 anos para recuperar as posições perdidas.

“Isso acontece porque, historicamente, as atividades do lar e a maternidade estão muito associadas às mulheres e, quanto mais tempo você está fora do mercado de trabalho, você está deixando de se se qualificar, você está deixando de ganhar experiência. Então, também fica mais difícil para elas se reinserirem devido passarem a ter uma baixa empregabilidade”, diz Janaína Feijó, pesquisadora da FGV.

A pesquisa mostra ainda que a pandemia cobrou um preço mais alto das mães. Quando as escolas fecharam as portas e as crianças tiveram que ficar em casa, muitas mulheres foram obrigadas a abrir mão do emprego.

Antes da pandemia, a diferença na proporção entre pais e mães na força de trabalho era de 31 pontos percentuais; passou para quase 34 e ainda não voltou ao patamar de 2019.

Para a economista Marilene Teixeira, que estuda a relação entre gênero e trabalho, é tarefa do poder público dar condições às mulheres para continuarem empregadas mesmo depois da chegada dos filhos.

“O estado tem um papel muito importante nesse sentido, porque ele precisa garantir, por exemplo, os cuidados. Ou seja, creche em tempo integral, educação em tempo integral. Quando as mulheres a entram massivamente no mercado de trabalho, aumenta as a renda do trabalho, aumenta os rendimentos de uma forma geral. Isso contribui para o consumo, para a produção, para o investimento. Isso tem um impacto generalizado sobre a economia e sobre o próprio crescimento econômico”, afirma.

Fonte: Jornal Nacional

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